terça-feira, 31 de julho de 2007


"Não julgues nada pela pequenez dos começos. Uma vez fizeram-me notar que não se distinguem pelo tamanho as sementes que darão ervas anuais das que vão produzir árvores centenárias."

Josemaría Escrivá

sábado, 28 de julho de 2007

Ter namorado

"Namorado: Ter ou não, é uma questão. Quem não tem namorado é quem tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem quer se proteger, e quando chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonho ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou ao meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha tentações de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido."

Artur da Távola *

* Texto atribuído à Carlos Drummond de Andrade mas é de Artur da Távola (Maiores informações)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Um dia

"Um dia você percebe que não valeu a pena tanta correria para ganhar dinheiro..
ganhar dinheiro e não usufruir.
Vai ver que o tempo passou e o cansaço tomou conta do seu corpo.
Vai ver que mesmo rodeado de muita gente, você se sente só.
Um dia você vai recolher-se no quarto e vai ter vontade de abraçar o travesseiro,
porque não sobrou ninguém pra abraçar.
Vai ver que não VALEU A PENA os anos sem férias, sem descanso.
Vai ver que não tem mais ilusões e a esperança anda com vontade de dormir.
Um dia você vai ver que passou pela vida sem viver.
Frequentou o mundo sem saber porque..
rodou, rodou, rodou, e não saiu do lugar.
Pensou que foi, mas ficou. Teve tudo e não sentiu nada.
Um dia você verá que o tempo escoa tão rápido como a areia fina pelos seus dedos.
Vai ver que resta parar e gritar de cima de um edifício: "CHEGA" !!!
Vai ver que é hora de sorrir, de amar, de ser da família, de misturar-se com as crianças e dar a mão ao próximo... Antes que seja tarde demais..."

Autor desconhecido

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Trecho de Fedro

"Só então a alma do amante segue, com receio e pudor aquele que ama. (...) Se antes, os seus amigos ou outras pessoas lhe denegriram esse sentimento, afirmando ser vergonhoso um tal consórcio amoroso, e se esses conselhos o afastaram do seu amante, o tempo que passa, a idade, a necessidade de amar e de ser amado, levam-no, de novo, aos braços do amante. (...) Quando o amado recebe o amante, que desfrutou da sua doçura e do seu convívio, compreende que o afeto de seus amigos e parentes em nada é comparável ao de um amante inspirado pelo delírio. Assim vivem, se vêem e se tocam, ora nos estádios, ora em outros lugares. Assim nasce essa emanação que Júpiter, quando amara Ganípedes, chamou de desejo. Esse desejo se insinua ao amante, e quando este se encontra cheio dele, transborda. (...) Ele ama, mas sem saber o quê. Nem sabe, nem pode dizer o que aconteceu consigo; assim como um contaminado de oftalmia desconhece a origem de seu mal, assim também o amado, no espelho do amante, viu-se a si mesmo sem dar por isso. Na presença do amado a dor do amante se esvai, e o mesmo sucede com este na presença daquele. Quando o outro está longe, o amante sente tristeza, e da mesma forma esta sacode o amado, porque ele abriga o reflexo do amor - acreditando, contudo, que se trata de amizade, e não de amor..."

Platão (Fedro)

* Esse trecho foi retirado do livro "Fedro" de Platão e acredito que nos dá uma boa perspectiva do amor, nos mostrando o quão importante é amar, mesmo que esse amor seja um amor de desejo...

domingo, 15 de julho de 2007


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida...
...antes que as cortinas se fechem e a peça termine sem aplausos."

Charles Chaplin

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Adeus

"Já gastamos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastamos tudo menos o silêncio.
Gastamos os olhos com o sal das lágrimas, gastamos as mãos à força de as apertarmos, gastamos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Eugénio de Andrade